Palavras preliminares do Diretor Geral do Diretório Revolucionario Ibérico de Libertação, Carlos Junqueira de Ambía —O Professor Bel—, um dos protagonistas do asalto ao “Santa Maria”.
Prefácio
Sôbre a ação do “Santa Liberdade”, em galego ou em protuguês, há versões diversas: adversas e perversas umas, outras não.
Todos quantos têm falado ou escrito sôbre êste fato, têm deformado a seu modo a realidade. A aventura mais grave do que se faz é o que dêle se diz.
Esta versão é pelo menos, amiga, pela clara intenção de quem a assina. Munóz Garrido é, sen dúvida, um bom amigo do D.R.I.L. Todo o demais é o de menos. O que se diz no livro poderá ser verdade, mas daí não se segue que seja um relato oficial.
O importante é estar a par do que o D.R.I.L. faz, seja o que fôr o que dêle se diga.
Os caminhos do D.R.I.L. não são de “andar e ver” como nos velhos contos; são de andar e fazer. Fazer caminho, ainda que não se possa, para que se possa ver.
No D.R.I.L. quando não há vento se voga. Vogar de todos os seus homens, comandos da “LIBERDADE E JUSTIÇA OU MORTE”, desde que lhes nasçeu a vontade de ser movimento. Por isso, o D.RI.L., que poderá perder o vento, nunca perderá o rumo. A trama do pano de suas velas vibra a pulsação de sua juventude sem limites e sem prejuízos. O D.R.I.L. não é uma organização tenebrosa, nem terrorista, porém não se intimida nen visa a intimidar a ninguém mais que não sejam os tiranos e seus aparelhos repressivos. Nasce para a liberdade de todos os povos ibéricos. Para a autêntica liberdade. O D.R.I.L. não é rebelde; é simples e profundamente revolucionário. Amável, porém radicalmente revolucionário.
Leia-se, pois, tudo quanto sôbre o D.R.I.L. fôr escrito, porém esteja-se mais atento ao que o D.R.I.L. fizer. Escreve-se sôbre o que se faz. No princípio e no fim das contas, o caso é fazer.
Um dia chegará em que a unidade de medida do que se escrever será, precisamente, o que se fizer. Não importa tanto quem o faz. Não recordo quem disse, creio que Carlyle, que um só homem tería sido, en cada época, o produtor de cada un dos grandes períodos históricos. Nós não cremos assim. Carlyle estaria com isso inventando um verbo. O verbo “vedetear”. O D.R.I.L. vacina-se, introduzindo no vocabulário de que se abusa outro verbo, contrário àquele, quiçá menos feminino, o verbo “drilar”. Verbo triturante e ao mesmo tempo amável como uma primavera de grilos e repique alvoroçado na longuíssima noite da Ibéria.
O D.R.I.L. crê mais —não é “carlyleano”— na graça, por vêzes contraditória, do provérbio, do refrão, da sentença que os povos elaboram como mel sincero de seus fracassos ou experiências. Em língua galega se diz, ou mellhor se sentencia: “Un é ningún” (Um é nemhum). Acrescentaríamos que ás vêzes um é menos que nenhum, porque ums ha que não só diminuem, como até negam.
Sabido isto, fica ressalvada a responsabilidade do D.R.I.L. Apenas fala um dos seus elementos, e assim mesmo palabra divagante, para agradecer a Munoz Garrido sua boa vontade, sua clara intenção e seu desinterêsse econômico, com que concorre para a hospitalidade extraordinariàmente carinhosa do povo e das autoridades brasileiras.
Assim, fica bem claro que não desejo fazer crítica literária. Quero única e exclusivamente tornar público que manifestar gratidão é também outra maneira de ser “drilista”.
O DRIL não publicou até agora qualquer livro que narre os seus feitos. Esperemos que isto aconteça, mas, por enquanto, não é coisa má ir lendo o que sôbre êle se disser.
A atividade do D.R.I.L. é ainda insurrecional. Não é conveniente dizer coisas antes do seu tempo. Só diremos que o DRIL realizou sua terceira operação, que alerta, adverte, insinua, ordena a todos os homens da Ibéria, que os tiranos e a matilha que o sustenta não cairão se não os derrubarmos, e não os derrubaremos se não usarmos a linguagem, a única linguagem, que pode entender um tirano: a violência que as circunstâncias nos obrigam a usar.
Adverte-se aos que acreditam cumprir com o seu dever quando executam ordens criminosas, confundindo o que executam com o exercíciolegal de uma profissão, que pode resultar-lhes muito caro o ofício de reprimir.
Insinua-se às mães, aos filhos, às noivas, aos amigos dos delatores, dos polícias repressivos, dos juízes, que vai ser muito perigoso delatar, prender e torturar ou julgar aquêles que, lutando pela dignidade dos seus povos, venham a cair em suas mãos.
A operação “Santa Liberdade” é a terceira operação do D.RI.L. Foi relalizada para alcançar vários objetivos. Quais? Estamos ou podemos estar às vésperas de contar-los ao mundo. Por ora o D.RI.L. é insurrecional, e, de qualquer forma, será o produtor, além do criador, porque tem vocação para isso, de um novo e grande período da História da Ibéria. Desde o mais fundo, fundura entranhável, de suas várias nações, fará sua revolução, sem ódios e sem limites, sem motes e sem outro rumo que o de satisfazer às necessidades do homem. Assim, o D.R.I.L. é “carlyleano”; de outra maneira, não.
São Paulo, 2 de maio de 1961
Carlos Junqueira de Ambía